Governadores criticam Lula e pedem retomada do diálogo entre Brasil e Israel durante convenção da Conib
Evento em São Paulo reuniu lideranças estaduais e marcou discursos contra decisões recentes do governo federal
Durante o jantar de abertura da 56ª Convenção da Confederação Israelita do Brasil (Conib), realizado no sábado (8) em São Paulo, governadores de diferentes estados aproveitaram o momento para criticar a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas relações internacionais e na condução política do país.
Estiveram presentes Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União-GO), Cláudio Castro (PL-RJ) e Eduardo Leite (PSD-RS) — todos com discursos que, em diferentes tons, defenderam uma reaproximação com Israel e condenaram o que classificaram como “afastamento diplomático” promovido pelo atual governo.
O estopim das críticas foi a decisão do Brasil de deixar a IHRA (Aliança Internacional em Memória do Holocausto), medida que foi interpretada por parte dos convidados como um gesto de distanciamento político e simbólico em relação ao Estado de Israel.
“Tempos sombrios”, diz Tarcísio
O governador paulista Tarcísio de Freitas afirmou que o país vive “tempos sombrios” e destacou a necessidade de retomar alianças estratégicas com Israel. Segundo ele, o Brasil “não pode se afastar de nações que representam a defesa da liberdade e o combate à intolerância e ao terrorismo”.
No mesmo tom, Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro, relacionou a crise da segurança pública ao avanço do narcotráfico e defendeu as operações policiais em comunidades fluminenses — frequentemente criticadas por integrantes do governo federal.
“Não aceitaremos que o crime organizado se transforme em instituição narco-terrorista”, declarou Castro.
O governador ainda respondeu, em tom irônico, às críticas do ministro Guilherme Boulos (PSOL-SP), que o acusara de “demagogia com sangue”. “Um paspalhão”, retrucou Castro, arrancando risos da plateia.
Caiado cita Lula diretamente
O goiano Ronaldo Caiado foi o único a citar o presidente nominalmente. Em seu discurso, acusou Lula de “pregar o ódio de classe” e de ser “conivente com o narcotráfico”. O clima no salão ficou tenso, e Clara Ant, assessora especial da Presidência e representante do governo no evento, deixou o local durante a fala do governador.
Já Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul, adotou uma linha mais moderada. Ele defendeu o diálogo e a convivência democrática, lembrando que “os conflitos fazem parte da vida em sociedade” e que “é preciso construir pontes, mesmo nas diferenças”.
Apelo à moderação
Encerrando a noite, o presidente da Conib, Claudio Lottenberg, buscou equilibrar os discursos e ressaltou que a comunidade judaica brasileira é plural, com posições diversas.
“Negociar não é ceder, é escolher a vida. Precisamos de maturidade e pragmatismo nas relações internacionais”, afirmou Lottenberg, pedindo serenidade ao governo e às lideranças políticas.
O evento contou ainda com a presença do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), do presidente do PSD, Gilberto Kassab, do senador Efraim Filho (União-PB) e dos deputados General Pazuello (PL-RJ) e Hugo Leal (PSD-RJ).